Em declaração ao Jornal Barcelos Popular, os irmãos e antigos atletas do OC Barcelos falaram e alertaram para a pandemia do Covid- 19
Falar dos manos Bertolucci é recordar os tempos áureos do Óquei de Barcelos. Mirko e Alessandro ainda hoje são recordados na Catedral pelos seus cabelos longos, pela irreverência natural do puro
italiano e, acima de tudo, pela forma como davam tudo em rinque. E essa garra e amor pelo hóquei em patins valeu-lhes nos quatro anos que passaram em Barcelos (1998 a 2002) um título da I Divisão e ainda uma Supertaça António Livramento. Aliás, estiveram ambos no último campeonato ganho pelos minhotos que se juntou aos conquistados nas épocas 1992/93 e 1995/96.
Os manos Bertolucci marcaram uma época no Minho mas também no país de origem. Ao longo destes muitos anos de actividade, Alessandro Bertolucci 50 anos) e Mirko Bertolucci (48 anos) sempre quiseram e tiveram a oportunidade de jogar juntos.
Antes de virem para Barcelos, onde também ingressou na altura outro italiano, Roberto Crudeli, mas saiu mais cedo do clube, os transalpinos maravilhavam os adeptos do Vercelli, facto que levou a direcção a contratá-los.
Foi uma novidade no Óquei e até no país pois não era normal contratar-se estrangeiros.
O primeiro ano, o tal da adaptação ao hoquei português e também à cidade, não foi nada fácil. Aliás,
houve até quem contestasse a vinda do trio para Barcelos. Mas, com o passar do tempo e dos jogos, os barcelenses renderam-se à classe dos remates fortes e certeiros do Alex e das jogadas de génio do mano mais novo. Foram aplaudidos de pé pelos óquistas, muitas vezes insultados pelos adeptos da equipa contrária mas, o que mais gostavam os atletas era no final dos jogos interagir com as pessoas e conviver diariamente com amigos que rapidamente foram fazendo.
Mas tudo tem um fim e o dia do regresso a Itália aconteceu em meados de Julho de 2002, contudo, os Bertolucci nunca deixaram de contactar com muitos barcelenses. Foram, então, por duas épocas para o Hockey Prato e nos anos seguintes Follonica foi a casa dos manos por cinco anos.
Contudo, em 2009/10 resolveram abraçar o projecto do Réus (Espanha) e aventuraram-se por mais
um ano fora de Itália. Na Catalunha deixaram, igualmente, muitos amigos e golos, muitos golos.
Nas temporadas seguintes foi o regresso a casa. Exactamente a casa e ao Viareggio, clube da cidade natal. Sempre juntos, os manos Bertolucci conquistaram títulos atrás de títulos, no total: 6 Campeonatos, 7 Taças de Itália e 4 Supertaças.
Até que a separação (desportiva) aconteceu a temporada passada com Alessandro a orientar o Sarzana e Mirko a ingressar no Correggio. E foi, assim, volvidas 18 épocas que os inseparáveis irmãos seguiram projectos opostos.
Mas a vida familiar continuou e o convívio com as filhas (cada um tem duas meninas) e os pais foi sempre a prioridade.
Até que um vírus alterou a vida dos manos Bertolucci.
A deles, da família e de todo o mundo.
A Covid-19 acabou com o dia-a-dia normal do povo italiano, um dos países que tem vivido intensamente esta pandemia, sendo o que mais mortes originou com este novo coronavírus. Mirko Bertolucci esteve à conversa com o Barcelos Popular e explicou como tem sido complicado estar
fechado em casa há mais de duas dezenas de dias:
“Tive a sorte de poder sair de Corregio, onde joguei, três dias antes do Governo fechar a zona vermelha. É verdade que estou fechado em casa, mas estou com as minhas filhas e com a minha mulher e por isso estou tranquilo. Aqui em Viareggio temos casos e temos mortos mas ainda é um número a que o nosso hospital pode dar assistência.
Tal como o seu irmão Alex
“ Estou fechado há 24 dias em casa. No início, treinava durante o dia para manter a forma, pois a esperança era que o campeonato voltasse. Agora, como temos a certeza que o campeonato não vai voltar, o aspecto desportivo já acabou. Tentamos passar o dia a fazer trabalhos em casa e a maior parte do dia passamos na internet, a falar com amigos ou a ver Netflix. Está a ser complicado pois ninguém estava habituado a estar tanto tempo em casa. Por azar, vamos estar em casa mais
um mês, no mínimo.
Mas esta parte de Itália até nem é a mais difícil: “Estamos a 300km do epicentro.
No Norte está muito, muito complicado, pois a gente já não pode sair de casa a não ser para ir à farmácia ou às compras. Por outro motivo somos punidos com uma multa muito alta.
É uma coisa que não conseguimos controlar, porque não é uma gripe normal e num dia chega a notícia que está a melhorar, mas no dia a seguir já piorou.
Eu acredito que o que o nosso primeiro-ministro está a fazer está certo, mas acho que as medidas já vieram atrasadas. Tudo passa pela inteligência das pessoas. E eu, como pai de família, estou preocupado com as meninas e com os meus pais. Eu obriguei-os a não sair de casa. Eu e o meu irmão vamos às compras por eles e a farmácia leva os medicamentos a casa deles, pois já têm 77 e 74 anos. O meu irmão também está fechado em casa, pois não temos outra alternativa. O que podemos fazer é esperar e ser inteligentes, para ver se daqui a um mês ou dois esta coisa passa”, disse esperançoso.
A parte desportiva também fica adiada: “É complicado para a gente como eu, pois estamos habituados a jogar todos os fins-de-semana e a treinar quase todos os dias e agora sentimos falta disso. No início só queria voltar aos treinos e jogar, mas agora já tenho consciência de que isto é muito perigoso. Este momento que estamos a passar vai ficar para a história. Para voltar a jogar, temos de estar em casa agora e não sair, para travar este vírus.
Tenho estado atento ás notícias da Europa pois tenho amigos em Espanha e
Portugal. Tenho dito aos meus ex-companheiros para não saírem e se cuidarem porque isto não é uma brincadeira. Aos meus amigos barcelenses digo para não saírem de casa pois aqui em Itália estamos a viver um período de medo, com muitos mortos e infectados. Espero que isso não aconteça em Portugal e que vejam o que se está a passar em Itália, para não cometerem os mesmos erros ".
Fonte: Jornal Barcelos Popular
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