No próximo dia 30 de Junho realiza-se no pavilhão municipal de Barcelos a homenagem a Rego Lamela, árbitro minhoto que deixa o apito no fim desta temporada. O seu ultimo jogo aconteceu na final da taça de Portugal em Barcelos entre o FC Porto e a Oliveirense.
O Blog Hoquei Minhoto entrevistou o juiz que ao longo de 34 anos serviu a arbitragem e dignificou a região. Uma entrevista onde Rego Lamela falou de tudo sem preconceitos.
- Blog Hoquei Minhoto
Chega ao fim mais de trinta e quatro anos de carreira de arbitro nacional e internacional
Como surgiu o gosto por ser árbitro de hóquei em patins?
- Rego Lamela
Comecei a gostar de hóquei em patins quando se realizou o Europeu de juniores. Na altura o hóquei em patins era a modalidade que trazia títulos para portugal Tudo começou em 1977, mas a serio e com diploma foi em 1979 onde fui arbitro de baliza. Ser arbitro apareceu com o convite do Luís Rei O meu primeiro jogo oficial como arbitro de ringue foi em 1980 onde dirigi o OC Barcelos contra a Grundig em jogos de reserva. Segundos os intervenientes no jogo a minha prestação foi correta.
BHM - Muitos foram os jogos de apitou. Algum recorda como melhor em termos de arbitragem?
RL - Estaria a mentir que não disse que os jogos entre FC Porto e Benfica são os que mexem mais com a modalidade. Houve uma época onde as duas equipas disputaram o play off. Nesse ano o titulo decidiu-se em quatro jogos onde eu apitei o primeiro , o terceiro e o quarto. Para mim foram os melhores jogos que dirigi porque em ringue estavam grandes jogadores envolvidos em grandes ambientes.
BHM - E qual o pior jogo?
RL - O pior jogo que apitei foi um Andorra/França para o Mundial B. As duas equipas já estavam apuradas para o Mundial A, mas faltava saber quem ficava em primeiro. Há vezes os jogos do mundial B são mais difíceis de gerir que as partidas da segunda ou terceira divisão em Portugal. Tudo começou quando perto do fim com o jogo empatado um jogador francês deu uma "stikada " violenta num adversário tendo sido expulso com na altura carão vermelho directo. A jogar com menos um jogador a França acabou por perder o jogo. Ainda hoje dizem que o Rego Lamela foi o culpado da derrota francesa nessa partida. Na altura o presidente do CERH era francês e olharam para mim como o maior culpado da situação.
BHM - Ao longo da carreira esteve em grandes palcos, conviveu com muitos dirigentes, jogadores e claro com árbitros.
Pavilhão
RL - O Palau Blaugrana de Barcelona e a pavilhão municipal de Barcelos
Dirigente?
RL - Sim cruzei me com muitos dirigentes, mas há um que apesar de actualmente não nos darmos bem, o Martins Arezes porque foi ele que na altura era presidente do conselho de arbitragem do Minho. Quando se começa a serio quem esta à frente de certos cargos fica como o grande responsável de uma carreira.
Jogador?
RL - Apitei jogos onde estiveram varias gerações de jogadores. Fiz mundiais, europeus, competições internacionais, mas é português aquele que pela sua qualidade e personalidade se evidenciou que foi o Vítor Hugo. Outros que marcam qualquer árbitro são o Tó Neves apesar do seu temperamento e O Pedro Alves pela sua forma de jogar. Dos internacionais foi o Panchito Velásquez.
Árbitro?
RL - O Luís Rei pelo seu carácter como homem e como árbitro pela sua qualidade.
BHM - Muitas vezes foi acusado de prejudicar as equipas do Minho. Explica porque razão esse sentimento expresso pelos clubes minhotos?
RL - Entendo perfeitamente esse sentimento. Mas o que dirão os árbitros da AP Porto quando apitam os jogos das equipas do Porto? e os de Lisboa quando jogam os clubes da capital? Eu dentro do ringue sempre procurei fazer o meu trabalho e penso que o fiz da melhor maneira. Em relação a essas acusações apenas digo que sempre fiz o melhor não olhando ás cores e aos emblemas das equipas. É errado pensar que o árbitro da cidade ou da mesma associação entre em pista com a intenção de ajudar.
BHM - A arbitragem portuguesa está bem servida? E no Minho?
RL - No Minho temos muita qualidade mas não temos quantidade. Todos os árbitros que estão em actividade no Minho foram formados por mim. Sou exigente na sua formação por isso tem todos um futuro muito promissor. A nível nacional penso que estamos bem representados. Não é pela arbitragem que Portugal não fica bem representado. Mas atenção que não há árbitros perfeitos. Nunca houve. falo por mim que aprendi até ao ultimo jogo que realizei.
BHM - Agora retirado dos ringues, vai continuar ligado à modalidade?
RL - Vou continuar ligado. A FPP convidou me para o conselho de arbitragem da FPP na próxima época. Quem viveu trinta e quatro anos e deu o que deu a esta modalidade não pode atirar para esquecer de um dia para o outro.
BHM - No Minho várias são as equipas de hóquei? Caracterize esses emblemas.
RL - O OC Barcelos e a Juventude de Viana são equipas que lutam por lugares cimeiros e tem adeptos que fervem com os seus jogos. O HC Braga é diferente porque a cidade de Braga não vive muito o hóquei penso que por culpa do Futebol. O Riba d'Ave um clube simpático. O Famalicense tenta recuperar o estatuto que já alcançou. A AD Limianos é uma equipa com um historial recente. O Cartaipense, o HC Fão, Valença, ADB Campo e a ED Viana são referencias na sua formação. Foi sempre bem recebido por todos.
BHM - Ficou surpreendido com a homenagem que lhe vão realizar?
RL - Sim fiquei agradavelmente surpreendido. Tal como já disse não é muito normal homenagear um árbitro. Agradeço à Câmara Municipal de Barcelos pela forma como se disponibilizou em colaborar nesta iniciativa, à AP Minho,à FPP, ao FC Porto e aos colegas que tiveram esta iniciativa. O árbitro é sempre uma figura polémica.
BHM- Alguma coisa nesta entrevista ficou por dizer?
RL- As coisas que nunca se disseram não será agora que vou dizer. Naturalmente nem tudo foi perfeito. As magoas e as feridas vão sarar com o tempo. Apenas digo que o hóquei em patins neste momento não é a segunda modalidade mais querida dos portugueses, mas sim a ultima. É A SEGUNDA MAIS QUERIDA DE TODOS.
O Blog Hoquei Minhoto agradeço a disponibilidade de Rego Lamela desejando lhe as maiores felicidades.