10.03.2020

Doença de Parkinson retira Paulo Rainha de Árbitro " Senti o apoio de amigos e colegas, mas de poucos nesta fase...".

 


Ao Hóquei Minhoto em exclusivo, Paulo Rainha que recentemente completou quarenta e três anos de idade, falou abertamente da sua carreira e claro da mágoa que tem em não poder continuar a apitar. O seu desejo era tentar estar presente no mundial da Argentina, mas a pandemia Covid 19 atrapalhou esse objetivo.

HM - Como é que decidiu ser arbitro de hóquei em patins? Alguém o influenciou? Alguma referência?


Hóquei em Patins foi sempre a modalidade que me apaixonou certamente por ser de Barcelos e esta cidade ser a catedral do hóquei. Nunca esteve no meu horizonte ser árbitro de hóquei em patins até que um dia estava na sede da Associação de Patinagem do Minho e reparei que estava aberto as inscrições para um curso de árbitros. Nesse momento comentei com o funcionário desta, Sr. Costa, que prontamente ele me disse que me ia inscrever. Precisava de um número mínimo de pessoas para abrir o curso. Posso assim dizer que no meu caso foi o Sr. Costa que me influenciou. Depois durante o curso a minha referência foi e será sempre o Joaquim Rego Lamela.



HM - Com que idade começou a arbitrar e quando é que chegou ao escalão maior?
Tirei o curso em 2004 e comecei logo a arbitrar. Lembro-me do primeiro jogo como se fosse hoje. Foi um jogo de infantis em Famalicão e arbitrei ao lado do José Manuel Silva. Estava nervoso apitando muito baixinho e poucas vezes.
Coincidências á parte o meu último jogo foi no mesmo pavilhão em Famalicão no jogo de 2ª Divisão entre o Famalicense e o Valongo este ano antes da pandemia interromper os campeonatos.
Cheguei ao escalão maior na época de 2006/2007 depois de ter ficado em 1º lugar do quadro B.


HM - A tua estreia a nível sénior foi quando?
Se não estou enganado a minha estreia foi um jogo da 3ª Divisão em Barcelinhos na época de 2006/2007.

 


 


HM - De todos os jogos realizados, qual foi o que o marcou pela positiva e também pela negativa?
Não posso enumerar algum jogo especificamente positivo ou negativo pois tive jogos em que estive bem e outros menos bem, mas também para que isso aconteça é necessário que todos os intervenientes do jogo ajudem positivamente. Logicamente se todos tiverem vontade que tudo corra bem tudo se torna mais fácil a nossa tarefa, mas temos de estar preparados para que o contrário aconteça. Mas posso dizer que os jogos que mais gosto tinha em arbitrar era dos miúdos.


 


HM - Quando lhe foi detetada a doença, tudo fez para continuar sendo que a decisão de terminar foi difícil? Sentiu o apoio dos seus colegas?
Sim, tudo fiz para continuar. Estive uma época parado para ter um diagnostico definitivo.
Nessa mesma época pedi ao Conselho Nacional de Arbitragem que me permitissem fazer de 3º árbitro para poder me manter inserido na modalidade. Foi difícil estar do lado de fora da pista de jogo, mas isso fez com que me desse mais força para voltar. Depois de diagnosticada doença de Parkinson na qual me afeta a mobilidade da perna direita em marcha lenta começou a recuperação tanto a nível físico como psicológico. A nível psicológico tive ao meu lado a minha família que foi incansável nomeadamente a minha esposa, filha e os meus pais que sempre acreditaram e conhecendo bem a minha personalidade nunca duvidaram do meu regresso. Dos colegas senti apoio, mas de poucos. Aqueles que podemos chamar de amigos sim tive sempre apoio. Quero também aproveitar para agradecer o apoio incansável e a confiança na minha pessoa, no meu valor proporcionando esta minha curta carreira sendo eles Rego Lamela, Agostinho Silva, Ricardo Oliveira, Aires Macedo, Dr. Fernando Graça, Prof. Luís Sénica, Fernando Claro, entre outros e que me desculpem aqueles por não pronunciar os nomes deles. Agradeço a todos.
Dar por terminada a carreira de árbitro e perante a situação, foi a decisão mais difícil desportivamente, mas foi a decisão mais
sensata pois tinha noção que devido à minha condição física estava mais suscetível ao erro que acabou por não acontecer nesta última época. Penso que poderia estar mais uma época ao mais alto nível, mas decidi parar pena foi a pandemia ter terminado a meio da época.


HM - Saindo agora, como vê a arbitragem nacional? Muitos consideram que os árbitros portugueses são dos melhores, mas por exemplo no último mundial a escolha não foi essa.

 


 


A arbitragem nacional está no bom caminho temos um leque de muitos bons árbitros embora o quadro esteja um pouco envelhecido. Jovens árbitros estão a surgir ao mais alto nível. Em relação ás competições mundiais de seleções é muito complicado para os árbitros portugueses porque temos a seleção portuguesa quase sempre nas finais e normalmente vai 3 a 4 árbitros de cada país a cada evento.


HM - A nível de árbitros do Minho, o futuro está garantido com os jovens Carlos Correia e Pedro Figueiredo?
Sim, a nível de árbitros do Minho o futuro está garantido não só a estes dois excelentes árbitros. Temos também o Fernando Vasconcelos com um futuro muito promissor e não descurando os outros árbitros do Minho que com a continuidade do trabalho feito pelos formadores Florindo Cardoso e Rui Torres também vão estar ao mais alto nível. Agora para se chegar a um nível elevado é preciso muita dedicação, estudo e disponibilidade.

 


 


HM - Sabe que ficará sempre ligado ao famoso jogo entre o Sporting CP e o Benfica em que foi anulado um golo ao Benfica nos últimos segundos que lhe retirou um título nacional?
Nessa época foi difícil enfrentar a critica?
Sim, foi difícil lidar com toda essa situação, mas somos preparados psicologicamente para este tipo de situações. Agindo de consciência tranquilo, com total imparcialidade e dando o nosso melhor tudo se torna mais fácil de ultrapassar este tipo de situações.


HM - Muitas vezes foi criticado por ser natural do Minho e de Barcelos e de apitar as equipas
do Minho. Como viveu essas críticas? Como encarou os jogos das equipas do Minho?
É natural que os adeptos façam esse tipo de críticas, mas têm de percebe que os árbitros, falando no meu caso, eu sou da região do Minho e natural Barcelos e não do Minho e do Barcelos, ou seja, era árbitro internacional ao serviço da Federação Patinagem de Portugal.


HM - Fez dupla com vários colegas? Alguém em especial que o marcou?
Sim, fiz dupla com muitos colegas. Cada um marcou à sua maneira. Aprendi muito com todos, fazendo dupla mais assídua com Rego Lamela, José Monteiro, Joaquim Pinto, Rui Torres, José Manuel Silva entre outros consegui aprender com o que cada um tinha de melhor para ensinar e oferecer.


HM - Algo que não fez pela modalidade e que o deixa triste por não realizar?
Penso que nestes 16 anos de carreira com árbitro fiz tudo pela modalidade dando tudo que me foi possível dar. Agora tenho este projeto pela frente, penso que vou ser útil para que a arbitragem continue a ser melhor.

HM - Vai continuar ligado ao Hóquei em patins onde recentemente foi eleito Diretor Arbitragem hóquei em patins e hóquei em linha e responsável pelos árbitros e nomeações.Porque razão esta opção de se manter no Hóquei em Patins?


Sim vou continuar ligado a modalidades nestas funções. A razão é simples!! Gosto do Hóquei em Patins e do mundo da Arbitragem e ao longo destes anos adquiri experiência e conhecimento para poder desempenhar estas funções. Este é um conselho novo, com pessoas novas, com novas ideias e temos um compromisso de 4 anos para implementar as nossas ideias.


HM - Por fim quer dizer algo a quem está a apitar nesta fase complicada perante a pandemiaCovid 19? Uma palavra para os dirigentes, atletas e árbitros.
Nesta faz e muito difícil para todos que gostamos desta modalidade, tanto os árbitros como todos os intervenientes do jogo que tenham cuidado, se protejam e que cumprem com as indicações da DGS para que o mais rápido possível se possa levar adeptos aos pavilhões. É num ambiente de pavilhão cheio que todos querem assistir a um jogo e fazer parte dele.


Aproveito por último agradecer ao Hóquei Minhoto, na sua pessoa Miguel Bastos, por esta oportunidade e para dar os parabéns do excelente trabalho e dedicação em prol da modalidade. É deste tipo de divulgação que é necessário para elevarmos esta modalidade ao
mais alto nível.
Obrigado e até já.

O Hóquei Minhoto agradece a oportunidade de finalmente falar sobre a sua retira de árbitro de hóquei em patins e deseja-lhe as maiores felicidades pessoais e profissionais. 

Fotos: AL António Lopes

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